ATA DA QÜINQUAGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 04.10.1988.

 


Aos quatro dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Qüinquagésima Terceira Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Amaury Soares Silveira, concedido através do Projeto de Resolução n° 28/88 (proc. n° 1363/88). Às dezenove horas e trinta e seis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Artur Zanella, 1° Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, no exercício da Presidência; Dr. Sinval Guazelli, Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; Ver. Brochado da Rocha, Prefeito Municipal em exercício; Sr. Amaury Soares Silveira, Homenageado; Srª. Iracy Silveira, esposa do Homenageado; Dr. Voltaire Giazarina Marensi, Assessor Jurídico do Ministério da Justiça, representando, neste ato, o Dr. Paulo Brossard de Souza Pinto; Irmão Avelino Madalozzo, Vice-Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Dep. Irani Muller, representando, neste ato, a Assembléia Legislativa do Estado; Ver.ª Gladis Mantelli, 1ª Secretária da Câmara Municipal de Porto Alegre. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Vereador Hermes Dutra que, em nome das Bancadas do PDS e PL, analisou o significado do título hoje concedido ao Sr. Amaury Soares Silveira, como o reconhecimento da comunidade aos que por ela trabalham e uma homenagem à entidade da previdência privada representada por S.Sa.. O Ver. Flávio Coulon, em nome da Bancada do PMDB, discorreu sobre a trajetória profissional do Homenageado, ressaltando ser S.Sa. um exemplo da potencialidade e do espírito humano, capaz de abranger, com eficiência, as mais diversas áreas de trabalho da nossa comunidade. O Ver. Brochado da Rocha, proponente da Sessão, teceu comentários sobre os motivos que o levaram a propô-la, salientando a atuação do Homenageado como Engenheiro Militar e como participante da atividade previdenciária, área de valor fundamental dentro da sociedade atual. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Sinval Guazelli, que saudou o homenageado. Após, o Sr. Presidente convidou o Ver. Brochado da Rocha a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Amaury Soares da Silveira. Ainda, o Sr. Presidente fez a entrega do Troféu Frade de Pedra ao Homenageado e concedeu a palavra a S.Sa., que agradeceu o título recebido. Em continuidade, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às vinte horas e trinta minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Artur Zanella e secretariados pela Ver.ª Gladis Mantelli. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.

 


O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Hermes Dutra pelas Bancadas do PDS e PL.

           

O SR. HERMES DUTRA: Exmo. Ver. Artur Zanella, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, no exercício da Presidência, Srs. Vereadores, minhas senhoras e meus senhores, amigos e colaboradores do nosso homenageado, Sr. Amaury Soares Silveira. Esta Casa já ao apagar das luzes desta Legislatura procura, através de um ato de profunda justiça de autoria do nosso ilustre Presidente, Ver. Brochado da Rocha, homenagear uma personalidade de nossa cidade com o Título de Cidadão Emérito. E o que significa, Sr. Presidente, Srs. Vereadores e senhores convidados, a concessão do Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre e o significado que tem esta solenidade? Vamos ver se conseguimos, na modesta mensagem que vamos transmitir, em nome do meu Partido, PDS e em nome do PL, o que entendemos como significado desta Sessão. Em primeiro lugar, é dever do Vereador e por conseqüência desta Casa, dizer à cidade e deixar registrado, para que  a história perenize, o nome daqueles que escrevem seu nome pelos seus atos, pelas suas obras, caráter, pelo que são, pelo que fazem e proporcionam aos outros fazerem. A solenidade de entrega deste Título, quando se reúnem os Vereadores, amigos do homenageado, seus familiares, representa na verdade o coroamento de uma tramitação que não começou hoje, mas que começou há mais tempo, quando teve a feliz idéia o Ver. Brochado da Rocha, apresentando o Projeto e que esta Casa, unanimemente, acolheu. E, ao escrever, na galeria dos cidadãos Eméritos desta Cidade, o nome de Amaury Soares Silveira, homenageia o homem, o dirigente, o profissional, o empresário e também o segmento que ele representa, que é entidade de Previdência Privada personificada na Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil que ele muito bem conduz.

Na verdade, a Previdência Privada, em nosso País de história, ainda recente, se considerarmos a história do País, tem um significado muito grande no que diz respeito à própria liberdade do cidadão, porque ao termos a oportunidade de bem escolhermos que nos deve dar a previdência, estamos fazendo um exercício de cidadania. E o exercício de cidadania se processo essencialmente pelo direito de escolha. E o ramo que o senhor representa, Sr. Amaury, para nós tem um significado muito grande, seja pela segurança que dá às famílias, seja pelo que representa de captação de poupança, que é investida de forma produtiva, e que se transforma como pinças avançando em outras organizações, transformando muitas vezes pequenas empresas em grandes conglomerados, como é o caso da nossa APLUB de hoje. Por isso, não me estendendo muito, quero que o Sr. Receba, ao lado desta homenagem oficial que esta Casa lhe faz, o abraço sincero dos membros do meu Partido e do Partido Liberal, dizendo-lhe que, quando votamos o seu nome, votamos com o maior prazer, sabendo que estávamos fazendo, sobretudo, justiça. Muito obrigado. (Palmas.)

 

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, pela Bancada do PMDB, Ver. Flávio Coulon.

 

O SR. FLÁVIO COULON: Minhas senhoras, meus senhores. No primeiro semestre deste ano a IBM trouxe a Porto Alegre, ao Salão de Festas da Reitoria da UFRGS, uma grande exposição sobre o gênio de Leonardo da Vinci. Percorrendo seus corredores, reflexione, na época, em o quanto o espírito humano é por natureza livre. Leonardo foi pintor, escultor, escritor, engenheiro, arquiteto, naturalista e inventor, um sábio completo que esteve, como se costuma dizer, “muito à frente do seu tempo”. Foi, acima de tudo, um erudito cuja sede de conhecimento nunca se limitou a um campo específico. Lembrei dele, e de sua exposição, ao pensar neste pronunciamento.

Geólogo de formação, sempre procurei manter-me aberto aos progressos do conhecimento humano. Não acredito que possamos nos fechar em uma especialização técnica qualquer (qualquer uma) sem que sejamos atropelados pela realidade do progresso geral. Mantive sempre, é claro, estreita vinculação com minha área profissional, mas sempre aberto às perspectivas de transformação da realidade, tanto técnicas quanto políticas e sociais. Foi respeitando este ecletismo que exerci a presidência do CREA, entre 76 e 78, da Associação dos Docentes da UFRGS, entre 83 e 85, e, também, que procuro pautar minha atuação nesta Câmara.

Foi com imensa satisfação, portanto, que percebi na trajetória de Amaury Soares Silveira a mesma disposição a enfrentar os desafios do novo. Também ele teve uma formação eminentemente técnica, primeiro como Engenheiro Militar, depois como Engenheiro Civil. Não faz muito tempo, era comum ouvirmos dizer que pessoas com este tipo de formação acabam com horizontes muito limitados para exercerem atividades em outras áreas. Seria como se as especializações técnicas insensibilizassem as pessoas para as nuances de outras atividades, onde o componente humano entre como uma variável de caráter dominante.

E, no entanto, aí está nosso homenageado, a provar que não é nada disto. Engenheiro, tornou-se também Analista de Métodos e Sistemas. Fez depois um curso de Gerência Empresarial na Itália, e agora o temos ligado ao setor da previdência privada, presidente da Companhia de Seguros Previdência do Sul, presidente da Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil, APLUB, presidente da Associação Nacional da Previdência Privada, do Sindicato das Entidades de Previdência Privado do Rio Grande do Sul, da APLUB Seguridade Social e da APLUB Informática. É com o orgulho de quem já foi presidente do CREA que subo a esta tribuna para homenagear fundamentalmente ao Engenheiro Amaury Soares Silveira.

Homenageá-lo não apenas pelo que já fez  e está fazendo, em termos diretos, nos cargos que ocupou e ocupa, mas também pelo exemplo que dá a todos nós. Exemplo de ecletismo intelectual. Exemplo de inquietação. Exemplo do potencial do espírito humano, contra os preconceitos que pretendem limitar cada técnico, cada profissional, a uma única especialidade. A grandeza humana certamente vai mais longe, como provam em todos os tempos históricos os privilegiados que, como Amaury Soares Silveira souberam ir além. Por estes exemplos, principalmente, ele merece hoje e sempre as homenagens e os aplausos de todos nós. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Prefeito Municipal em exercício, Ver. Brochado da Rocha, proponente da presente homenagem.

 

O  SR. BROCHADO DA ROCHA: Sr. Ver. Artur Zanella, primeiro vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre no exercício da Presidência e Srs. Vereadores, minhas senhoras e meus senhores, na verdade um dos motivos, um dos objetivos da Câmara Municipal de Porto Alegre é trabalhar no sentido de buscar apropriar-se para a Cidade de Porto Alegre daquilo que a Cidade tem como fator humano de mais expressivo e sobretudo daquelas pessoas que conseguem congregar sobre si uma série de forças e uma série de elementos indispensáveis para que nossa Cidade, com suas naturais dificuldades possa avançar. Para tal, cada um de nós fica a ajuizar quais os valores reais a serem atribuídos, neste momento, e neste tempo a cidadania de Porto Alegre. Disto, brotava estão uma análise, que de resto, já foi oferecida pelos meus nobres pares que passaram por esta tribuna. Fundamental era destacar a atuação brilhante do militar. Não só foi um militar, mas sobretudo, um Engenheiro Militar, exitoso em seus cursos e sobretudo muito cioso e consciente das suas responsabilidades de militar e de Engenheiro Militar. De outra parte, é necessário colhermos o ensejo de mostrarmos que o brasileiro, sobretudo o gaúcho da nossa terra teria de agregar uma polivalência, e sair da área militar, com todo seu ritual e toda sua simbologia própria para adentrar ao mundo civil também com suas características próprias e também com seu mundo próprio, saindo então do seu campo da Engenharia propriamente dito, avançava nosso homenageado em Análise de Sistemas e alcançava o mundo empresarias. Muito bem analisava antes de chegar a esta tribuna a importância que desempenha hoje em nosso mundo, Porto Alegre, a atividade previdenciária. Esta é, em verdade, uma grande história, a atividade hoje desempenhada pelo nosso homenageado como atividade previdenciária. E foi pelo meu colega Dr. Voltaire, - muito bem lembrada, - esquecida por muitos anos, a tal ponto que as entidades privadas não tinham sequer uma regulamentação. Esta regulamentação custou muito a vir. Somente ela chegou no ano de 1977, mas, sobretudo ela teve um período de acomodação e representa hoje para nós não só uma pluralidade de opções necessárias ao mundo em que vivemos, mas sobretudo ela representa também e fundamentalmente apesar de todas as leis, apesar de todas as técnicas, ela representa um pouco mais, digamos que todas as técnicas que possam fechar a previdência social na área privada, ela ainda tem um elemento que é fundamental sem o que ela não vai funcionar, que é exatamente como os dirigentes administram, movimentam esta atividade privada a nível previdenciário.

E com este trabalho que V.Exa. vem desempenhando, oferece a todos nós uma oportunidade de segurança de vez que estamos realmente protegidos pela lei, mas estamos muito mais protegidos pelo patrimônio moral que V.Exa. representa. Digo isso com absoluta tranqüilidade de vez que não conheço nenhum órgão previdenciário que não assentasse neste fundamento, apesar de todo um emoldurado de legislações que possam a ele ser destinados. Isso a cidade de Porto Alegre teria que se apropriar, se apropriar do Dr. Amauri, faze-lo cidadão e deixá-lo fundamentalmente comprometido com a nossa cidade.

Este Plenário que, normalmente, é habitado por partes interessadas ou, fundamentalmente, por pessoas eleitas pelo povo de Porto Alegre, ele traduz o espírito e a alma dos porto-alegrenses e traduz também o reconhecimento, traduz a esperança, traduz a indicação do que nós desejamos encaminhar. Por esses motivos todos nós teríamos que, realmente, escrever em pergaminho a sua Cidadania e ter, com este gesto, que foi unânime na Casa, comprometido-o com a cidade, com os nossos destinos e com as nossas obrigações.

Por isso, este gesto que é de agradecimento, sim, mas que é, fundamentalmente, um chamamento para que todos nós possamos dividir a tarefa que é fundamental de termos em destaque e bem perto de nós aqueles que representam os valores maiores da nossa sociedade porto-alegrense. Por isso, a Câmara Municipal está profundamente honrada e o Município de Porto Alegre em tê-lo como Cidadão de Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: S. Excelência o Sr. Vice-Governador perguntava-me há pouco se o Regimento Interno da Casa era tão rigoroso quanto o Regimento Interno da Assembléia, da Câmara Federal, do Senado e de outras Casas Legislativas. Eu dizia que sim, que ele era rígido, mas não, evidentemente, com ele que é um mestre de todos nós. 

Com a palavra o Dr. Sinval Guazelli.

 

O SR. SINVAL GUAZELLI: Sr. Presidente; demais integrantes da Mesa; Srs. Vereadores; meu caro Dr. Amaury Soares Silveira e sua distinta companheira; amigos da APLUB; senhoras e senhores:

Não sei se esta oportunidade em que a palavra me é franqueada pelo Sr. Presidente importa ou não numa ruptura do Regimento Interno desta Câmara Municipal, de qualquer forma a atitude do Sr. Presidente em me conceder a palavra neste instante revela o seu espírito liberal e democrático e nos dá uma idéia muito simpática desta colenda Câmara Municipal.

Recolho com alegria esta oportunidade porque gostaria de dizer algumas poucas palavras, quando cuida a Casa de homenagear o Dr. Amaury Soares Silveira.

Tenho com o Dr. Amaury uma amizade que vai por mais de 30 anos. Nós dois, jovens, em Vacaria, minha cidade natal, ele o tenente, e depois o capitão Amaury, servindo no 3º Batalhão Rodoviário, e eu um jovem advogado que iniciava as suas atividades profissionais. E pude naquele convívio aprender a admirar no jovem oficial do nosso Exército, alguém que tinha uma grande curiosidade de conhecer as coisas e as pessoas. Alguém que não ficava restrito às atividades castrenses, mas que tinha uma grande sede de conhecimento, de todo e qualquer ramo de atividade humana. Percebi desde logo no jovem oficial uma vocação para servir a sociedade, alguém que queria discutir e aprender para poder servir. Pude acompanhar a sua trajetória. Foi, realmente, um militar que soube honrar, pela sua conduta, pelo seu comportamento, pela sua bravura, pela sua altivez, soube honrar a farda que vestiu.

E, ao se iniciar nas atividades civis, desde logo, se revelou um elemento singularmente empreendedor e aglutinador, e portanto um verdadeiro líder, capaz de conduzir pessoas para alcançar metas, propostas, estudioso, correto no proceder, corajoso no lance e audaz, o Dr. Amaury Soares Silveira chega, hoje, nesta Câmara Municipal para receber esta alta distinção que, seguramente, muito o honra como Cidadão Emérito da nossa Capital do Estado, Porto Alegre; quero cumprimentar o ilustre Ver. Brochado da Rocha pela feliz e oportuna iniciativa, e ao Plenário desta Casa, pela sua justa decisão.

Homenageamos um jovem que pela sua liderança na área empresarial representa com autenticidade, hoje, no setor de previdência privada, uma empresa nascida, crescida e consolidada aqui, no Rio Grande do Sul, e que é um orgulho de todos nós rio-grandenses, a Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil, a nossa querida APLUB; e ninguém melhor para representar a entidade que o seu dinâmico Presidente, o nosso homenageado de hoje.

Por isso, é que eu quis nesta rápida passagem por esta tribuna que me honra muito, pela primeira vez aqui estar, eu quero me associar e penso que posso falar em nome do Governador do Estado, me associar às homenagens desta Câmara Municipal que deu acolhida à iniciativa do nobre Ver. Brochado da Rocha para fazer do Dr. Amaury Soares Silveira Cidadão Emérito de Porto Alegre, com justiça, na oportunidade correta. Sinto-me confortado como um amigo do homenageado que o conheceu desde jovem e o acompanhou ao longo da vida, poder vê-lo hoje aqui na condição de Vice-Governador e estar presente nesta solenidade. Muito obrigado. (Palmas.)

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Sr. Prefeito Municipal em exercício, Ver. Brochado da Rocha, que faça a entrega ao nosso homenageado do diploma que o torna Cidadão Emérito da cidade. Peço a platéia que receba, de pé, junto com o homenageado esse diploma.

 

(Procede-se à entrega do diploma.) (Palmas.)

 

Esta Casa também tem o seu símbolo que é o Troféu Frade de Pedra que traduz o apreço da população porto-alegrense a todas as pessoas que de alguma forma prestam serviço à comunidade. Historicamente traduz a hospitalidade rio-grandense, uma vez que representa o símbolo da fraternidade e boas vindas.

Entregaremos agora ao nosso homenageado o símbolo da hospitalidade da Câmara Municipal, para que tenha junto de si a homenagem do povo de Porto Alegre.

 

(Entrega do troféu.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: É concedida a palavra, neste momento, ao Sr. Amaury Soares Silveira.

 

O SR. AMAURY SOARES SILVEIRA: Exmo. Sr. Ver. Artur Zanella, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, no exercício da Presidência, distintos Vereadores desta Câmara Municipal, meus amigos aqui presentes:

Algumas vezes estive aqui, em cerimônias iguais a esta, trazendo minha modesta solidariedade a amigos meus distinguidos com este título de Cidadão Emérito. Em nenhum momento, porém, passou-me pela imaginação pudesse eu estar na condição de homenageado com tão honrosa outorga. Nem no mais fantasioso devaneio poderia imaginar-me alvo desta honraria. É assim, pois, tocado por enorme surpresa que a recebo com um misto de sentimentos, vários até antagônicos, como a pintar na sua diversidade de cores, todos os tons do imprevisto. É alegria que se transmuta em seriedade; é orgulho que se entrelaça à humildade; e é, também, vaidade. Por que não? Afinal quem não se sentiria envaidecido ao ser levado à comunhão dos filhos ilustres desta terra? É esta vaidadezinha matreira que se insinua entre outros e melhores sentimentos, não a disputar com eles a primazia da personalidade, mas a dar-lhes o tempero do realismo e que teria levado La Rochefoucauld a afirmar que a virtude não iria muito longe se a vaidade não lhe fizesse companhia.

Pois aqui estou cheio de alegria, aquela alegria efusiva que sempre nos traz qualquer homenagem, alegria de ser lembrado, de receber a solidariedade dos amigos, o abraço fraterno dos companheiros. A alegria que se transforma em seriedade pelo caráter cívico deste laurel, com a gravidade da mais alta corte representativa do povo porto-alegrense. Aqui estou cheio de orgulho próprio dos que se sentem destacados. Mas, acima e mais forte do que todos estes sentimentos, está a humildade de quem recebe este galardão não como um prêmio, mas como um desafio, um imperativo a que continue sempre na trilha do cumprimento do dever, do devotamento ao trabalho, do comprometimento com a sociedade, da fidelidade aos seus ideais e da solidariedade aos semelhantes. Este é o caminho que me trouxe até aqui e, confesso, não tanto por escolha própria mas simplesmente porque não conheço outro. Este é o caminho que, na primeira e mais intensa escola da vida, a casa paterna, me ensinaram, me mostraram e me mandaram seguir. E quando, à beira desta caminhada, encontro estações como esta, abrigos como este aqui, reconfortos de inexcedível satisfação como este momento, sinto que é o caminho certo e que vale a pena seguir, sem desconfianças nem desvios, e, encetada a jornada, sem nenhum arrependimento. Não é largo este caminho, nem largas são as suas portas, como preconiza o Evangelho de São Mateus, recomendando a porta estreita e o caminho estreito, que levam à vida, enquanto o outro, a porta larga e o caminho espaçoso, podem conduzir à perdição.

Ao palmilhar tal estrada sinto que dois mandamentos me prendem a seus rumos: um, no plano ético, a me impulsionar como um desígnio de meus pais, os primeiros a me apontarem e a nele me colocar, e um incentivo de meus melhores amigos a nele permanecer; outro, no plano espacial, fático, um impulso pertinaz que me conduz e, de forma compulsiva, me reconduz, sempre, a esta Mui Leal e Valorosa Cidade.

A primeira vez, eu ainda menino, lá do portal das Missões, fui arrancado cedo do meu berço para o primeiro contato com a metrópole e estava Porto Alegre diante de mim não como um brinquedo, menino que era, mas como uma responsabilidade: chegava para o primeiro embate da vida, o do estudo, e não para os folguedos da infância descompromissada. Era a predestinação: aqui seria a terra das minhas lutas e das minhas realizações.

Ainda num derradeiro apego ao torrão natal, volto a Cruz Alta, mas o caminho implacável me fez retornar. E muitas vezes ainda me levaria adiante, para depois me trazer novamente. Fiz muita dessas viagens e posso dizer que o melhor delas sempre foi o retorno.

É imperativo da carreira militar, que havia abraçado, a vida andarenga. Pois até essa circunstância o meu caminho contornou, muitas vezes retendo-me aqui. Tempo suficiente para construir alguns pilares.

Foi nesta cidade que encontrei ânimo para, num acúmulo de atribuições, buscar uma profissão graduada. E foi aqui, também, que encontrei aquela com quem, junto a mim, construiria a mais nobre das realizações: um lar. E neste lar, os primeiros filhos.

As alegrias e aflições, risos e dores, são as duas faces da existência que têm servido aos poetas de inspiração e que a mim serviram de têmpera. A irredutibilidade destes antagonismos é a grande fatalidade da vida e o foi também da minha, exigindo que fosse bem distante buscar alguém com quem reconstruísse meu lar, alguém que pudesse, também, tornar-se porto-alegrense e que aqui está, comigo, no meu lar refeito, na nossa Porto Alegre, terra, também, de nosso filho, como a de meus outros filhos.

Senhores: venho a esta solenidade de mãos vazias. Não trago nelas troféus de grandes conquistas, nem a cabeça coroada de louros. A ela chego constrangido pela pobreza do mérito diante da grandeza do título. Confesso, e peço que me acreditem, jamais persegui o sucesso ou qualquer tipo de glória. Tenho-me mantido restrito ao ditame de Einstein: “esforça-te para ser não um homem de sucesso, mas um homem de valor”. Para mim, o valor a que se referia o sábio, é a fidelidade a si próprio. Autenticidade, em suma.

Se de algo redunda, se o mérito surge de alguma coisa que tenha feito, devo a uma característica atávica do meu modo de ser: a fé, a crença, a pertinácia. Tudo o que faço é com uma determinação: acredito no que faço ou nada faço quando não  tenho esta mesma fé. Um desejo ardente tem contribuído mais do que a competência técnica para a realização dos meus desideratos. Não desprezo o conhecimento racional, a ciência, a técnica. Sem isto, nada poderíamos fazer, a não ser uma inútil contemplação dos fatos. Como profissional, sempre busquei o mais amplo conhecimento e a mais correta aplicação da técnica, mas não esqueço que isto é tão  somente um instrumental, indispensável, mas ferramenta, apenas. A razão adverte sobre o que devemos evitar, mas é o coração que nos diz o que fazer. Faço aquilo em que acredito. A atividade que hoje desenvolvo, parece, a princípio, manter, senão uma incompatibilidade, pelo menos um distanciamento daquilo que foi minha preparação profissional. Cheguei ao exército e dali, com naturalidade e até como conseqüência, à Engenharia. Agora estou em algo aparentemente muito diverso. No meu tempo de militar, não conseguia ver somente as armas; via os homens. Também como engenheiro, nas obras que realizei, sempre me  satisfez mais o convívio com as pessoas, o contato com o obreiro do que com a obra. O que trago daquelas profissões para o exercício de hoje é a arte de administrar. Por isto, não houve quebra de continuidade. Quando encerrei a carreira militar,  a grande escola de minha vida, um dilema se pôs diante de mim: dedicar-me à Engenharia ou ligar-me à previdência. Foi uma opção tranqüila, embora, na época e para muitos, a previdência privada não fosse uma alternativa tentadora. Era-o, para mim, por compatibilidade com o que, anteriormente, chamei de valor de um homem: a autenticidade, a fidelidade a si próprio.  

Até mesmo porque, convidado, que fora por amigos a ingressar na APLUB, esta escolha me faria voltar, mais uma vez, a esta cidade.

Eu acredito na previdência privada e acredito de duas maneiras. Pessoalmente, encontro aí a oportunidade de me realizar como administrador. No plano institucional, ela constitui um valioso instrumento de realização social.

Foi-se, há muito, o tempo de se questionar a previdência privada. Hoje, no mundo todo, ela só não existe onde não há previdência nem privatismo. Há um consenso de que a previdência é um dever do Estado. Ontologicamente é um dever do Estado, porquanto há a preocupação com a segurança futura, a subsistência do indivíduo. Mas há, também, de forma inegável, o direito do cidadão de estabelecer seu padrão de subsistência.

É na sutiliza destas duas declarações que se estabelecem os limites entre a previdência social e a privada. A primeira, como garantia mínima de subsistência; a segunda, como oportunidade de manutenção de standard de vida.

Sou tomado de algum temor sempre que falo em previdência privada: o temor da prolixidade, da incontinência verbal. O tema me empolga e por vezes excedo-me no tempo e abuso da audiência. Vim receber um título, não vim pregar.

Aristóteles, no seu trabalho de Política, recomenda que “negociantes não devem receber títulos de cidadania, porque seu gênero de vida é sórdido e contrário às virtudes”. Ainda bem que, para cada pensamento sábio há outro pensamento sábio contraditório. E é lá, na antigüidade, que encontramos o contraditório, no pensamento de Plutarco: “Deixar de cometer erros está fora do alcance do homem. Entretanto, de seus erros e enganos, o sábio e o homem racional adquirem experiência para o futuro”. De lá até nossos dias, muita experiência foi adquirida e é provável que os empresários de hoje pouco tenham a ver com o perfil descrito por Aristóteles.

Em verdade não vivemos sob o império absoluto da ética e da moral. Por vezes até chega-se a pensar que a sociedade, o mundo em geral e não apenas o mundo dos negócios, está mais ocupada em refinar os vícios do que aprimorar as virtudes. Mas isso não é motivo de desesperança. Ao contrário, deve ser mais um fator, uma força a mais na busca da decência, da justiça, da eqüidade, da lisura; enfim, de uma sociedade melhor.

Senhores: Vim aqui receber um título honorífico; o de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Título imerecido que se acrescenta, creio, a um  outro que o destino já me havia dado: o de cidadão de Porto Alegre. Vim humildemente recebe-lo e devo agradecer. Agradeço à colenda Câmara Municipal, especialmente ao seu Presidente, o nobre Ver. Brochado da Rocha, responsável por tal proposição; agradeço aos meus amigos que aqui vieram, aos meus colegas, aos meus familiares. Agradeço a todos os que aqui estão.

Sinto-me tentado, ainda, a fazer uma promessa, um juramento: assim como este título tanto me honra, hei de continuar pautando minha vida de modo a, permanentemente, honrá-lo. Muito obrigado. (Palmas.)    

 

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Este final de tarde, início de noite, coroa um dos grandes dias porque esta Casa passou, quando discutíamos na semana passada não imaginávamos que seu autor, Presidente desta Casa, Ver. Brochado da Rocha, seria hoje o Prefeito da Cidade, não imaginávamos que o dia, como todo dia de um Vereador ou de um morador desta Cidade, seria um dia tão atribulado, e não imaginávamos que na Prefeitura de Porto Alegre o Ver. Brochado da Rocha, que lá substituía o Sr. Prefeito, tivesse, hoje exatamente, o dia em que ele imaginava uma grande festa para o nosso Cidadão Emérito, enfrentar uma greve, enfrentar incêndios. Mas a vida é esta, eu que tanto lutei para ser o orador em nome do Partido da Frente Liberal para homenagear o Dr. Amaury, termino, presidindo a Sessão. A nossa vida é assim. Não esperava ouvir hoje o Dr. Sinval Guazelli, uma palavra reclamada há muito por nós. E nós o ouvimos. E ouvimos, principalmente, a voz de um homem que representa exatamente aquilo que o nosso Regimento Interno preconiza, ao ser instituído o Galardão  de Cidadão Emérito de Porto Alegre. E foi com emoção que ouvi o Dr. Sinval Guazelli falar sobre Vacaria, que o Dr. Guazelli não sabe é o berço da minha família, lá na longínqua Distrito de Ipê, onde nasceu meu pai, hoje emancipada.

Esta Câmara sente-se grata com a presença de todos os Senhores e senhoras. Sente-se grata com a presença do Dr. Amaury Soares Silveira, e da sua Esposa Iracy Silveira; Dr. Sinval Guazelli, Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; com o Ver. Brochado da Rocha, Prefeito em exercício; com o Dr. Voltaire Marenzi, que representa o Ministro Paulo Brossard de Souza Pinto; com o irmão Avelino Madalozzo, da nossa PUC; Dep. Irani Muller, também de Cruz Alta como o nosso homenageado; Ver.ª Gladis Mantelli, primeira Secretária da Câmara Municipal de Porto Alegre. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 20h30min.)

 

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